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A Copa é na R.U.A
Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, Junho 2014
Equipe R.U.A

Desde a escolha do Brasil como sede da Copa, nunca se imaginou que o tradicional jeitinho brasileiro, sempre ligado mais aos impulsos cardíacos e emocionais do que à razão, iria chegar a tamanhos extremos. Quem festejou a escolha do Brasil como sede, mal sabia o caos que seria. Mal sabia que anos depois estaria nas ruas denunciando aquilo que o envergonharia, as artimanhas elaboradas para que a Copa acontecesse. Mal sabia que estaria apanhando da polícia, a mesma que teoricamente visa a proteção do cidadão.

 

De 2007 pra cá, vimos a sociedade brasileira passar por um período de extrema ruptura consigo mesma. Foram escândalos de corrupção governamental, rupturas políticas e debates sociais que culminaram no fatídico Junho de 2013, onde o descontentamento e o desespero do brasileiro fez tremer as estruturas de poder constituídas pela primeira vez em um bom tempo.

 

E, à sombra imponente de Junho de 2013, produziu-se a explosão da Copa do Mundo. Não há palavra que explique. As imagens dão margem a muitas interpretações. Essas interpretações divergentes foram a base dos diálogos que pautaram a Copa do Mundo antes dela acontecer, no decorrer de todas as partidas e também depois. Até hoje não só as imagens, mas todas as críticas e elogios repercutem na esferas públicas e privadas até de quem não esteve tão ativo durante o período futebolístico que mobilizou nações.

Antes, durante e depois da Copa do Mundo, vivemos o crescendo e a apoteose de todo o contraste que nos representa como povo e como país. Vimos toda nossa hospitalidade com estrangeiros e nosso desprezo para com nós mesmos. Vimos uma sociedade dividida, conflitante e às vezes guerreando entre si, sem espaço para diálogo. Vimos todo o calor e toda a frieza do povo brasileiro, nossos lados mais gentis e mais asquerosos dentro e, sobretudo, fora dos estádios. Vimos a construção de uma consciência crítica em uma parcela da sociedade. Vimos a estagnação no lugar comum em outra parcela.

Nosso moralismo, por vezes falso ou hipócrita. Nossa paixão muitas vezes cega pelo esporte que nos faz conhecido mundialmente. Vimos e vivemos todos os extremos de um mesmo país, tal como fragmentos refletidos num espelho estilhaçado.

E, no meio de todo esse turbilhão, cá estamos. Longe do glamour e da ribalta, acompanhamos nos olhares das pessoas todas as cores, faces e fragmentos que fizeram da Copa no Brasil algo tão único e tão marcante. Algo histórico. Há quem tenha amado, há quem tenha odiado, mas direta ou indiretamente, todos fizeram parte dela. Não houve escapatória.

Das ruas, presenciamos em primeira mão todo o orgulho, a decepção, a repressão e a loucura que foram estes últimos anos e acontecimentos que tiveram, em seu clímax, a Copa.

            Vimos um lado muitas vezes deixado para escanteio. Vivemos para contar o que vimos, e aqui está.

© R.U.A Foto Coletivo 2014

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